domingo, 26 de junho de 2011

Cultura popular - resumo texto

Separação da cultura em popular e de elite
Segundo Renato Ortiz, até meados do século XVII, a fronteira entre cultura popular e cultura de elite não estava bem delimitada, pois a nobreza participava das crenças religiosas, das superstições e dos jogos realizados pelas camadas mais pobres. Mas quando começa ocorrer esse distanciamento, intensifica-se o processo de repressão da cultura de elite sobre a cultura popular. Na Europa isso aconteceu devido dois fatores principais: a implementação de uma doutrina de submissão das almas feita pela Igreja e pelo processo de centralização dos Estados. Ambos de ordem política. Nessa época teve início o processo de desencantamento com o mundo e valorização da cultura burguesa (moderna), em detrimento da cultura popular tradicional.

Folcloristas
Os precursores dos estudiosos do folclore – dos folcloristas – eram intelectuais românticos que pregavam um popular ingênuo, anônimo, espelho da alma nacional, buscando no Positivismo emergente um modelo para interpretá-lo. Grandes nomes desse período (final do século XVIII e início do século XIX) foram os alemães Jacob e Wilhelm Grimm, que impulsionados pelo interesse nas tradições populares, inauguraram uma coleta de contos pelo contato direto com os camponeses, indicando o local onde a história havia sido ouvida.
Então, quando em meados do século XIX, quando o termo folclore foi criado, o capitalismo encontrava-se a todo vapor, os estudiosos das manifestações culturais, imerso nas grandes transformações que ocorriam na época, em que tudo era muito transitório e impessoal, buscavam encontrar a tradição nesse contexto.
Porém os intelectuais brasileiros, como Silvio Romero, Celso de Magalhães e Couto de Magalhães, buscavam investigar a origem e as características das manifestações folclóricas como meio para afirmar a identidade nacional. Para isso era preciso entrar em contato com o povo (homens simples das classes inferiores e do meio rural), pois eles eram testemunhas e arquivo vivo de tais tradições, mas que estavam ameaçadas pelo progresso (modernidade) do período. Como se a cultura popular estivesse atrelada a dimensão de atraso, de retardo dessa população.
Nos estudos sobre as manifestações populares, Silvio Romero, buscou apontar as tradições a partir da relação das três raças (branca, negra, indígena), apontando os elementos específicos de cada uma e até que ponto esses elementos estariam fundidos. Ele acreditava que os principais agentes criadores da cultura seriam os brancos e os demais como agentes transformadores. E utilizando-se da teoria Darwinista, lança a tese de que os negros e índios estariam condenados ao desaparecimento e o mestiço seria apenas uma etapa para a constituição do branco puro, como verdadeira raça brasileira. Sendo assim, precisariam registrar urgente, as manifestações populares antes que desaparecessem ou fossem totalmente degradadas, com a concretização desse branqueamento.

Mas qual seria o conceito de popular?
Canclini destaca que o popular é algo construído, mais que preexistente. Que a história do popular sempre foi relacionada com a história dos excluídos, que não têm patrimônio ou não conseguem que ele seja reconhecido e conservado. Ele afirma ainda que o popular está inserido no processo constitutivo da modernidade, com as seguintes contradições: moderno=culto=hegemônico x tradicional=popular=subalterno.

Popular x Folclore
O popular, olhando pelo prisma do folclore, é o que se refere à tradição, o depósito da criatividade camponesa, as suposta transparência da comunicação cara a cara, da profundidade que se perderia com as mudanças exteriores da modernidade.

Popular x Comunicação
O popular é visto pela mídia através da lógica do mercado, e cultura popular para os comunicólogos não é resultado das diferenças entre locais, mas da ação difusora e integradora da indústria cultural. O popular é dessa forma o que vende, o que agrada multidões e não o que é criado pelo povo. E que após atingir o seu auge, deverá ser relegado ao esquecimento, a fim de dar espaço a um novo produto que deverá ser acessível e do gosto do povo, ou seja, popular.

Popular x Política
Já a operação política que também coloca em cena o popular – o populismo, utiliza-se da cultura para edificar o poder. Deixa de lado a exaltação da tradição, selecionando do tradicional o que é compatível com o desenvolvimento contemporâneo, e reverte a tendência de fazer do povo um mero espectador, criando situações nas quais ele atue e/ou participe, como por exemplo, nos desfiles ou nas manifestações de protesto. O popular, nesse sentido, é visto como simplesmente povo. Um grande populista brasileiro foi o presidente Getúlio Vargas.

Cepecistas
Existe também a concepção populismo de esquerda ou alternativo, que são construídos pelas próprias camadas populares, que diferentemente do populismo de direita, busca a transformação da sociedade. A exemplo, tem-se o Centro Popular de Cultura (CPC). Este rompe a identidade “forjada” entre folclore e cultura popular, pois enquanto folclore é tradição, a cultura popular é vista como parte de um processo mais amplo de transformações econômicas, sociais e políticas do país. No Brasil o movimento cepecista, surge em virtude da necessidade de uma maior aproximação entre os artistas e o povo. A grande preocupação deles era a construção de uma cultura popular que visasse à transformação de toda a sociedade brasileira. Os artistas e intelectuais cepecistas entendiam “povo” como a camada subalterna da sociedade, a classe trabalhadora, a classe revolucionária, responsável pela transformação da sociedade, pela insurreição do novo. Mas como eles (o povo) não tinham essa noção, cabia a eles (intelectuais e artistas do CPC) despertá-los para essa consciência. E isso eles faziam através da arte atrelada à política e chamavam-na de cultura popular revolucionária.   

Arte cepecista x Arte do povo x Arte popular
Carlos Estevam Martins diferencia a arte cepecista, a arte do povo e a arte popular: a primeira é a própria das comunidades rurais, arcaicas e atrasadas, em que o artista não se distingue do povo, devido a simplicidade da sua arte a retratar os fatos do cotidiano; a segunda, é ingênua e retardatária e não tem outra função que a satisfação das necessidades lúdicas e de ornamentação; a terceira é própria dos centros urbanos, industrializados, e elaboradas por artistas pertencentes a classes sociais distintas do seu público.

Folclorista x Cepecista = Tradição x Transformação
Conclui-se então, que enquanto para os folcloristas o povo possui um saber, para os cepecista o povo é detentor de um poder. Um eterno embate: tradição x transformação. Talvez seja preciso pensar em tradição e transformação como complementares entre si e não como excludentes. Tradição não implica uma recusa a mudança, da mesma forma que a modernização não exige a extinção das transformações.


Texto: Cultura popular – entre a tradição e a transformação
Autor: Vivian Catenacci

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