domingo, 19 de junho de 2011

Memorial Artístico

MEMORIAL ARTÍSTICO


"Todos os artistas têm em comum a experiência da distância insondável que existe entre a obra de suas mãos, por conseguida que seja, e a perfeição fulgurante da beleza percebida no fervor do momento criativo: o que conseguem expressar no que pintam, esculpem ou criam é só um tênue reflexo do esplendor que durante uns instantes brilhou ante os olhos de seu espírito”.
(Papa João Paulo II)




A ARTE EM MINHA VIDA

“não sei, só sei que foi assim”...

Minha experiência com a arte começou logo cedo. Devido à forte atuação dos meus pais nas atividades da igreja (católica), eu ainda era bem criança (por volta de 5 anos), quando entrei no grupo de catequese, onde permaneci até os meus 12 anos, época da minha “Primeira Eucaristia”. Durante toda a minha permanência na catequese sempre convivi com atividades artísticas, tanto assistindo como participando ativamente delas. Recordo-me bem de um musical que se chamava “A linda Rosa Juvenil”, que era um dos nossos preferidos. Mesmo após a Primeira Eucaristia, permaneci na catequese, como auxiliar de catequistas. Mais tarde, participei do coral da igreja e do grupo de jovens, onde também realizávamos muitos trabalhos artísticos, como encenações do Nascimento e Paixão de Cristo, Lava Pés, Santa Ceia, além de muitos outros de caráter religioso, nos quais eu sempre atuava.
A música sempre foi uma das minhas grandes paixões, mas as oportunidades eram poucas e por gostar muito de escrever, apesar do pouco conhecimento, arriscava algumas composições. Na copa do mundo de 1994, fiz uma parodiazinha bem legal da música do Olodum “Te amo”, para a torcida pelo Brasil.


A seleção, na copa do mundo
Vai agitando e jogando sem parar
E a torcida toda junta se animando
Acreditando que é o Brasil que vai ganhar

Ref: Ele vai trazer o tetra, o tetra
Ele vai trazer o tetra, o tetra

E ao sentir as batidas do coração
Pulsando rápido e forte sem parar
Sinto por dentro uma força me tomando
Tenho certeza, é o Brasil que vai ganhar

Ref: Ele vai trazer o tetra, o tetra
Ele vai trazer o tetra, o tetra


Durante a minha adolescência até os meus 19 anos, fiz alguns poemas, mas nunca fui muito simpática com o que escrevia pelo fato de enxergar naquilo um excesso de melancolia, sempre fazendo alusões aos sentimentos, principalmente ao amor e à paixão. Quase tudo que eu escrevia, quando guardava era por um curto tempo, depois rasgava e jogava fora. Fazia aquilo apenas como passa-tempo. Citarei aqui um deles:







Infinito Amor

Eu gosto de você tanto,
Que nem eu mesma sei dizer o quanto!
Se estou contigo a noite é um segundo,
Por este amor faço parar o mundo!
A vida inteira esperei por ti,
Jamais imaginei te amar assim!
Agora sei que o meu amor é seu,
Quero viver pra sempre ao lado teu!

Eu vou gritar pro mundo, você pra mim é tudo
O nosso amor é o meu motivo pra viver!
Nem mesmo Freud um dia, jamais explicaria
Essa paixão que me arrasta pra você!

Cruzaria os 7 mares só pra te ver,
Escalaria o Everest sem perceber.
Eu faço tudo só pra ter você comigo,
E Te perder seria o meu pior castigo!
Se estamos juntos o meu mundo está completo
Esqueço tudo, basta ter você por perto
Mais que setenta vezes sete vou falar
O meu amor é infinito como o mar!


Também durante toda a minha vida escolar a arte esteve presente na minha vida de maneira muito intensa. Eu sempre gostei de música e dança, apesar de não ter nenhum contato com essas expressões em minha casa, devido ao meu pai ser de mente muito fechada e contra todas essas coisas “do mundo”. Por conta disso, era exatamente na escola que eu encontrava a oportunidade de fazer aquilo que eu tanto gostava e não tinha possibilidade. Foi lá, no Colégio Estadual Pedro Falconeri Rios, onde vivi as experiências mais fantásticas da minha vida.
Era o ano de 1995, aos meus 14 anos, a sociedade assistia a um grande surto de dengue e foram desenvolvidas diversas campanhas de prevenção. Meu professor de ciências – Jomar – decidiu desenvolver isso também lá na nossa cidade, Pé de Serra, a fim de alertar a população para os riscos da doença. Pediu que a turma criasse uma música, tema da campanha, que seria cantada em passeata pelas ruas da cidade e valeria nota de prova. Eu tive a idéia de criar alguma coisa animada, mas sempre fui muito tímida em público e tinha vergonha de apresentar o que eu criava. Em casa, sozinha, compus uma paródia da música “Requebra", que se chamava O Requebra da Dengue, com muita timidez, apresentei a letra da música para a turma e pedi que mostrassem ao professor. Todos aprovaram e o trabalho foi muito legal. Com uma fanfarra, circulamos por toda a cidade exibindo cartazes e cantando a música. Era mais ou menos assim:





O Requebra da Dengue

O mosquito da dengue vai se requebrar
Pois a nossa campanha de 95 vai arrebentar
Na água parada tome cuidado ele está bem aí
Ele é perigoso e o melhor remédio é se prevenir

Pode se cuidar
Pode se cuidar

Ref. Olha a dengue, olha a dengue, olha a dengue aí
Pode se cuidar e se prevenir

Contra o Aedes nós vamos lutar
Pra dengue acabar, ôôôôô
Faça sua parte, se junte aqui
E a dengue vamos banir


A parte engraçada da história é que por eu ser a menor da turma e bem magrelinha, o professor inventou que eu seria a mascote da campanha e que sairia à frente da passeata fantasiada de mosquito (risos), porque eu era a artista da campanha e caso eu não saísse não teria a nota. É claro que eu me recusei! Tamanha audácia a dele, eu criei a música e ficaria sem nota. É mole? Mas no final deu tudo certo, eu não me vesti de mosquito nenhum, mas obtive a nota.
Lá no Falconeri (como chamamos o colégio), participei de grupos de dança e de muitas outras atividades artísticas, dentre as quais destaco duas, que vivi aos 15 anos de idade. Minha professora de história - Ana Laura - sempre gostou de explorar os assuntos de forma prática, por entender que dessa maneira absorvíamos melhor o conteúdo. Era o ano de 1997 e eu cursava o 2º ano do ensino médio, quando apresentamos “Pra não dizer que não falei das flores” e “100 anos de Canudos”, que, especialmente este, certamente jamais sairão da minha memória. Os dois trabalhos foram feitos sob a direção do nosso colega Antônio Eudes, que representou Antônio Conselheiro e também foi o responsável pela produção dos textos e pelos personagens, isso devido ao grande talento que desde cedo demonstrava para as artes cênicas. Ele é fantástico!!!!
Como a história de canudos carecia de muitos personagens, na sua maioria masculinos, juntaram-se três turmas e muitas mulheres precisaram se vestir de homens - inclusive eu. A quadra de esportes do colégio funcionou como palco, onde foi montado um grande cenário, com rios, casas, árvores, confeccionados com galhos, plástico, papel metro e madeira, tudo extremamente lindo e ousado para nossa humilde realidade. Os portões foram fechados e era necessária uma contribuição simbólica de R$0,25 para ter acesso ao local, que para nossa surpresa ficou completamente lotado, o que proporcionou outra experiência maravilhosa. O dinheiro arrecadado, a princípio seria para os custos com material e filmagem, mas, apesar de pouco, a arrecadação cobriu todos os gastos e ainda serviu para financiar uma viagem da turma até a região onde a verdadeira história aconteceu. Os alunos tiveram oportunidade de conhecer Canudos, Jeremoabo e adjacências e puderam conferir de perto o local que foi palco da triste Guerra de Canudos.
Neste mesmo ano tive a oportunidade de ter um contato mais próximo com a música. Na minha cidade existia uma filarmônica muito boa, a Lira 6 de Agosto, que se apresentava em diversos municípios da região, sob o comando do Sr. Antônio, porém apenas homens faziam parte dela. Resolvi então conversar com o dirigente, expus para ele o meu desejo de tocar algum instrumento, de preferência o sax, pelo qual sempre tive paixão. A conversa foi proveitosa, apenas com algumas restrições, eu não poderia viajar com a banda, já que eram apenas homens. Sem problema nenhum! Peguei minha primeira lição e fui toda feliz ensaiar. Quase nem comia, só estudando aquela coisa maravilhosa. Depois peguei a segunda, depois a terceira, enfim todas. Montei minha pastinha e em pouco tempo já estava tocando algumas coisas no sax alto, que se tornou meu companheiro inseparável naqueles dias em que permaneci lá. Quando estava finalmente aprendendo a tocar de verdade e peguei minha primeira partitura para ensaiar, o ano acabou e eu decidi sair da cidade em busca de outras oportunidades. Infelizmente abandonei a filarmônica, mas morria de saudade daquela experiência inexplicável que vivi.
Em 1998 conclui o 2º grau em Magistério numa cidade vizinha e em 1999 retornei a Pé de Serra, mas não voltei para a filarmônica, porque havia decidido ensaiar para a Furacão, uma quadrilha muito boa, que se apresentava no são joão da nossa cidade e concorria em várias cidades, concorreu inclusive no arraiá do galinho, no Balbininho, em Salvador. Da Furacão, ficaram umas poucas fotografias, mas muitas recordações boas, imagens que jamais sairão da minha memória, porque fazem parte de mim e comigo permanecerão enquanto eu existir!



FURACÃO 1999






FURACÃO1999


No 2º semestre de 99, findados os ensaios as apresentações também eu decidi migrar para salvador em busca de novas conquistas, trabalho, estudo, etc. aqui não tive oportunidade de continuar na música e fui deixando de lado o sonho de tocar instrumentos. Cheguei a começar aulas de violão, mas também não levei adiante.
Aqui em Salvador, longe da família, sem conhecer quase nada, passei por algumas dificuldades que me impediram de ingressar na faculdade. Somente no ano de 2010 é que surgiu a oportunidade do BI. Claro, escolhi o de Artes e mais uma vez tive a oportunidade de desenvolver atividades artísticas.
No 1º semestre, no componente Ação Artística, sob a direção dos professores Ângelo e Elisa, desenvolvemos trabalhos bem legais, misturando teatro, música, performances, etc. e no final do semestre fizemos uma apresentação para o público da faculdade. Uma experiência muito boa! No 2º semestre, outra vez com o professor Ângelo, desenvolvemos algumas atividades, desta vez mais voltadas para a música e sem apresentações em público. Estou no 3º semestre e continuo minha ligação com a arte de forma muito prazerosa, numa estreita relação com a arte de educar: educar com arte e para a arte!

Finalizando, para a arte eu digo:
O nosso caso é eterno... tão terno! De um jeito assim... intensamente, mas que não se vê, nem se mede, apenas se sente!!

Um comentário:

  1. Maravilha, Ana!
    quase todos os memoriais dos estudantes, que leio, são apresentados em linguagem sensível e são comoventes. Belas historias de vida. Um abraço.

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