domingo, 19 de junho de 2011

O Território do Olhar

Referência: Texto - O Teritório do Olhar


O olhar profundo é aquele que percebe o real, que vai além do espelho e integra o Todo, com uma visão única. A realidade objetiva é independente do observador que a interpreta de acordo com o território dos seus pensamentos, suas aquisições culturais que determinam boa parte dos fenômenos. Cabe ao homem mudar o modelo mecanicista de produção, consumo, poluição que destrói o planeta paulatinamente, através da mudança de nosso território cultural.
A evolução do olhar, dos conceitos, das ciências é extremamente lenta, ao passo que a situação planetária experimenta, em todos os setores da tecnologia e da ciência, mas também na deterioração da vida planetária, uma aceleração exponencial.
Precisamos aprender a aprender, ultrapassar o território limitado e buscar o território do sentido para que possamos olhar, investigar o sentido, bem como ver e interpretar o próprio sentido. Isso é importante para que se verifique o tipo de ser que somos, a que espécie espiritual pertencemos, que bem ou que mal somos capazes de cometer por nós mesmos e pelos outros, se somos meros instrumentos ou somos conscientes e atuantes na Terra e no Cosmo.
Tudo está ligado no Cosmo, tudo tem sentido. É quase impossível vislumbrar até que ponto nada está separado na ordem orgânica e cósmica, em que o real é uma interação instantânea entre o local e o global, o subjetivo e o objetivo, o infinitamente pequeno e o infinitamente grande. As riquezas do sentido estão também aqui, abundantes, ao nosso alcance. Mas precisamos reaprender a dar tempo ao tempo, para lucrarmos com as inúmeras riquezas do sentido e transportá-las para nosso território.
O conhecimento serve para conhecermos a nós mesmos e ao nosso próximo, para descobrir o sentido e o objetivo da vida e da energia cósmica, concretizar e desenvolver o ser, a harmonia, o crescimento físico e espiritual, bem como para se chegar a níveis de realidade cada vez mais sutis e indescritíveis.
Os seres humanos não são só influenciados pelos fatores como a hereditariedade, a cultura, a afetividade, entre outros, mas também pelo campo infinito que existe no fundo de nós mesmos, que nada mais é do que uma das variáveis do ser.
O homem pode e deve analisar e ver todas as coisas além da visão da ciência, percebendo que o universo é, antes a expressão “de um grande pensamento do que de uma grande máquina”, é tentar entender o “Todo diferente das partes”.
Aprender a perceber níveis de consciência cada vez mais sutis, pois existe uma infinidade de enfoques possíveis dependendo do lugar e da distância de onde olhamos; isso é fator determinante da condição humana; essa consciência é o que diferencia o homem do chipanzé.
Por maior que seja o conhecimento do homem ele ainda é ínfimo, em virtude do desconhecimento de grande parte das energias do universo, também chamada de matéria negra. Mesmo com toda evolução da ciência que manipula os genes e a energia através das partículas, ele se ilude quando pensa dominar o incognoscível, a inacreditável complexidade das interações, esquecendo-se que o homem e o ser vivo são um único todo e pertencem ao cosmo, ou seja, o Todo não se deixa reduzir pela carne. O homem faz parte do Todo, isso quer dizer que ele pode ultrapassar o limite e ir além do território, das faculdades mentais, bem como dos sentidos.
É incrível que o território da ciência não possa resolver a questão: porque as coisas são o que são? Os físicos que vão até as profundezas das energias subquânticas e consideram a matéria como um campo infinito de pura vibração, observam que a ciência é incapaz de responder a questão, ou seja, Aquele que dá a ordem permanece desconhecido.
O “salto conceitual” evocado por Einsten que instaura uma visão, não das propriedades das partículas, mais a partir do universo das partículas que diz: “Há muito tempo me convenci que não poderá encontrar esta subestrutura por meio de uma via construtiva partindo do comportamento das coisas físicas conhecidas empiricamente, pois o salto conceitual necessário ultrapassaria as forças humanas”.
O termo energia que tem um enfoque moderno, científico e cultural que a caracterizam, contribui ensinando ao homem como ver de outra forma. Existem diferentes aspectos e níveis de realidade desta palavra, a qual pode variar. O Oriente está um passo a frente do Ocidente quando se trata do assunto, pois para nós ela pode assumir aspectos insuspeitos, até mesmo incompreensíveis, por conta de nossas tradições.
Tudo o que é novo é de difícil aceitação. O que faz o homem progredir não está na afirmação, mas na abertura da visão, na tolerância e principalmente na maiêutica, que cultiva a arte socrática do questionamento. A cada instante nós elaboramos nossa própria realidade e a física quântica é uma das variáveis veladas que modificam ou fazem com que nossas certezas dêem um salto quântico ou cósmico.
O imaginário atualmente é tolerado como criador de novos conceitos, idéias que podem materialmente nos enriquecer num piscar de olhos. O Cosmo possui um imaginário tão infinito e desconcertante que, em troca, nos torna conscientes dos limites de nosso próprio imaginário. Ele é ao mesmo tempo ordem, caos e aleatório, associando o contínuo e o descontínuo, situando-se entre estes dois aspectos, como articulação vibratória que liga os mundos. O imaginário reveste o espaço do ser e faz com que o homem experimente a harmonia sutil da pura unidade.
Da Declaração de Veneza que foi à base da Transdisciplinaridade, em 1986, destaca-se a frase: “O estudo simultâneo da natureza e do imaginário, do universo e do homem, poderia nos aproximar mais do real e permitir que enfrentemos melhor os diferentes desafios de nossa época”.
O Ocidente, ainda determinista e causal é o oposto do Oriente que continuou holístico desde suas origens xamânicas, nas quais o homem não estava separado da natureza e desenvolveu uma sensibilidade e uma inteligência muitas vezes admiravelmente adaptadas à inteligência e ao imaginário das energias naturais.
A autoconsistência do cosmo significa que nada está separado no universo e que cada ser, cada átomo faz parte desta unidade misteriosa. O homem e o universo resumindo-se numa só coisa: uma declaração aprovada doravante pelos maiores nomes da física e que efetivamente une ciência e tradição, Oriente e Ocidente. As bases de um novo território, fonte de uma futura união do pensamento planetário, são erguidas.
Um fato observável e constante é científico, já o sentido variável e aleatório não é, portanto, nem observável, nem científico, eis aí o maior choque dos tempos modernos. Imaginemos que o homem um dia pare de ter idéias a respeito da natureza e tente entender a inteligência da natureza, imaginemos que já não exista Oriente nem Ocidente, mas um único planeta do sentido. Imaginemos encontrar seres suficientemente apaixonados e competentes para procurar o sentido exatamente onde ele esteja, na ciência, nas tradições milenares, nas antigas sabedorias. Temo que este sonho ainda seja acessível apenas a uma pequena minoria. O planeta precisa viver, não morrer, e com esta consciência, com esta visão unitária que reintegra o homem ao sentido e a unidade visível e invisível, reside uma energia cósmica que é uma razão de se ter esperança. Precisamos também construir novas ciências, entre as quais aquela de aprender a aprender, que consiste em desenvolver serenamente a paisagem do sentido. Aquela da escuta que integra, na vida cotidiana, os tesouros do sutil, os aspectos quânticos e vibratórios do ser vivo.




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